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De que o Brasil precisa para ser mais sustentável?

Com recursos naturais abundantes, país tem dificuldades para aproveitar potencial e adotar medidas modernas e sustentáveis


O debate em torno da necessidade de práticas mais sustentáveis em todo o mundo não é recente. No Brasil, iniciativas voltadas para a sustentabilidade e geração de energia limpa tentam conscientizar a população sobre desequilíbrios no uso de recursos naturais do planeta. Para o especialista em sustentabilidade, eficiência energética e hídrica Wagner Cunha Carvalho, o país ainda peca muito quando se trata de aproveitar seus recursos naturais e precisa se inspirar nas lições de gestão de outros países. "A maior parte da população desconhece os fundamentos do desequilíbrio no planeta e quais hábitos mudar para virarmos o jogo. Temos que copiar o que funcionou nos países líderes em sustentabilidade, como programas de incentivo às boas práticas", afirma. Conversamos com Carvalho, que é diretor de relacionamentos e negócios da empresa W-Energy, sobre quais medidas o Brasil deve adotar para chegar ao caminho da sustentabilidade. Confira:


Não há dúvidas de que o planeta precisa que nos adequemos o mais rápido possível a meios de produção mais sustentáveis. Mas, no dia a dia, com exceção de grandes empresas que são quase que obrigadas a adotar políticas nesse sentido, por causa das exigências de governança, compliance e responsabilidade social a que estão sujeitas, ainda sentimos pouco comprometimento das organizações com o meio ambiente. Sob uma ótica pragmática, a realidade é que nossa cultura nos prende ao resultado imediato, nos preocupamos pouco com o futuro. Como resolver essa questão?

Carvalho: Nossa aposta é promover a “Transformação Cultural Sustentável”. A maior parte da população desconhece os fundamentos do desequilíbrio no planeta e quais hábitos mudar para virarmos o jogo. Em todo o projeto que implantamos, na W-Energy, a conscientização é o pilar do meio. Criamos um programa para escolas chamado “Sustentabilidade para Crianças”, é sem custo e visa promover junto aos pequenos a importância de práticas sustentáveis e como lidar com os pais no dia a dia, levando pra casa mudanças de hábitos que trarão resultados grandiosos.

Outro grande “pulo do gato” chama-se modelagem, temos que copiar o que funcionou nos países líderes em sustentabilidade, como programas de incentivo às boas práticas. Pequenos ajustes em nosso modelo podem fomentar essas iniciativas, como redução ou eliminação de IPI para tecnologias verdes, financiamento a juros zero em até 20 anos para quem compra ou produz painéis solares, por exemplo. Descontos em impostos para as empresas amigas do meio ambiente funcionou na Alemanha, funciona no Brasil. Existe uma expectativa de muitas mudanças para 2019, e o cuidado com planeta precisa entrar na pauta. Somente desta forma vamos acelerar o futuro sustentável.

O Brasil tem grande potencial para explorar meios mais limpos e sustentáveis de geração de energia, mas ainda patina nessa tentativa. Nosso potencial de geração de energia solar e eólica, por exemplo, é bem subaproveitado. Em sua análise, a que isso se deve e como podemos evoluir?

O Brasil é o país com maior potencial para geração de energia limpa, porém, além do uso das termoelétricas, nossa energia é a quinta mais cara do mundo e para a indústria já é quarta, com tendência de em um futuro próximo chegar no topo da mais cara. Isso era para ser justamente ao contrário, pois a maior parte de nossa matriz energética é proveniente de hidrelétricas. Sendo o país com mais água doce no mundo, deveríamos ser exemplos no assunto. Mas, junto à abundância de recursos, vem a cultura do desperdício. Dentre 195 países, 11% da água doce do planeta está no Brasil, e isso aumenta nossa responsabilidade.

O novo, além de fomentar a eficiência energética, precisa entender o custo da energia elétrica no país como uma alavanca para economia e também como um diferencial competitivo para atrair indústrias para o país, gerando mais empregos e renda para a população. Reduzindo a carga tributária da energia, incentivando a construção de parques eólicos e solares, fazendo pequenos ajustes na legislação para redução de intermediários ao longo de toda a cadeia, qualificando a mão de obra com cursos técnicos, criaremos um cenário ideal de incentivar todo o mercado. A Economia e a Sustentabilidade podem e devem caminhar lado a lado.

Como podemos explorar melhor, de forma mais sustentável, nossa reserva de água potável?

As companhias de saneamento desperdiçam em média 40% da água distribuída, antes de chegar no cavalete do hidrômetro. O primeiro ponto a ser atacado são as perdas, começando pelas concessionárias que “incentivam a população”, os programas de uso racional de água e quase em sua totalidade não possuem o mesmo implantado em sua própria estrutura. O segundo ponto é a aplicação do chamados economizadores de água que podem reduzir o consumo em até 50%. Em terceiro, o reuso de água, captação de água chuvas para descargas, rega e limpeza. E o quarto ponto: a despoluição dos rios. Foram gastos 11 bilhões só para despoluir os rios Pinheiros e Tietê. A expectativa era consumir água potável do Rio Tietê até 2005, disse o ex-governador Fleury. Estamos em 2018 e ainda despejam esgoto in natura no Rio Pinheiros, como o bairro do Panamby inteiro em São Paulo. Em função do descarte de anticoncepcionais nas descargas e antibióticos, as bactérias sofreram mutação e estão cada vez mais resistentes, outro ponto a ser destacado é o descarte de óleo na pia, isso forma um “chicletão” difícil de tratar.

Circulou na imprensa a informação de que o novo governo federal eleito estabeleceu contatos com o governo israelense e pode haver uma troca de expertise tecnológica entre ambos na área hídrica, inclusive no que diz respeito ao projeto de dessalinização de água do mar para consumo humano. Como você vê essas possibilidades e de que maneira isso pode impactar o nosso mercado?

A próxima extinção não deve ocorrer por falta de água, 71% da superfície terrestre é coberta por água, mas deve ocorrer pela contaminação da água potável.

Na China, mais da metade da água já está contaminada com metais pesados, inclusive a do lençol freático. E essa realidade deve se repetir em muitos países. Sendo a dessalinização uma poderosa ferramenta, ela é extremamente estratégica para o nosso futuro. Israel é um exemplo no assunto, há décadas atingiu o superávit de água, compartilha com países vizinhos e criou uma verdadeira revolução. Desde o ano 2000, é lei em Israel a adoção de sistemas de descarga com duplo acionamento, gerando economia de até 50%. Portanto, essa possível transferência de propriedade intelectual será muito boa para o nosso país. Israel também é referência em irrigação por gotejamento, quase 70% do consumo de água doce do planeta é consumida na agricultura, essa prática já é conhecida no Brasil, e sua adoção gerou a safra da super cana, por exemplo, com barras de até 06 metros.

Não entendo que o grande problema seja tecnológico. Hoje, com a internet e impressoras 3D, as informações estão disponíveis. O grande segredo está no incentivo e na difusão ao máximo das boas práticas. A Sustentabilidade veio para ficar, e essa tecla tem que ser batida sempre até formar um mantra, pois a mudança de hábitos no seres humanos não é uma tarefa fácil, e reverter séculos de cultura de desperdício tem sido meu objeto de pesquisa há anos. O amor pelas gerações futuras será nosso grande combustível para promovermos as mudanças necessárias.

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